domingo, 4 de agosto de 2013

Jack Reynolds


A Revolução dos Bichos: uma fábula política

A Revolução do Bichos
A Revolução do Bichos é uma fábula política que denuncia a decadência moral dos governantes das ditaduras e a farsa dos ideais igualitários. As ditaduras que normalmente começam com o ideal de que todos são iguais, acabam com o lema "alguns são mais iguais que os outros".
Revolução dos Bichos é um livro escrito por George Orwell para denunciar os abusos, mentiras e os sórdidos mecanismos de poder da União Soviética, surgida após a Revolução Russa de 1917. Orwell é também o autor do livro 1984, que cunhou o termo “Big Brother” e autor da expressão “Guerra Fria”, amplamente utilizada com referência à tensão internacional ocorrida após a Segunda Guerra Mundial. O escritor serviu na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), em que sofreu com a repressão da polícia secreta da União Soviética, enviada por Stalin para defender seus interesses. Orwell  viu de perto os métodos utilizados pelos russos e esse livro foi escrito para atacar o “mito soviético”. No entanto, a forma alegórica utilizada para escrever A Revolução do Bichos fez a história transcender seu objetivo inicial, podendo ser aplicada a várias ditaduras e governos dos séculos XX e XXI, como os da China, Coréia do Norte, Cuba, Iraque e Zimbábue, só para citar os casos mais conhecidos de totalitarismo.

Qualquer discordância com Stalin era considerada crime e passível de execução, sendo entendida como traição ou conspiração contra o regime soviético. O ditador promoveu assassinatos de integrantes do partido comunista da união soviética, execuções em massa e alterações de registros históricos. Acusações mentirosas e falsificações de documentos eram justificativas para execução de opositores. Também promovia o "culto da personalidade". De acordo com a Wikipédia, "Após a extinção do regime comunista na União Soviética, historiadores passaram a estimar que, excluindo os que morreram por fome, entre 4-10 milhões de pessoas morreram sob o regime de Stalin".
O livro narra a história da tomada de poder de uma granja, administrada pelo cruel Sr. Jones. A ideia inicial da revolução foi estimulada por Major, um velho e sábio porco (personagem inspirado no filósofo Karl Marx) que antes de morrer exortou a todos a lutar pela liberdade e declarar guerra contra os humanos. Inspirados por Major e oprimidos pela fome e  pelos maus tratos, os bichos da granja, liderados pelos porcos, conseguem expulsar o Sr. Jones.  Uma grande esperança no futuro toma conta de todos e os animais passam a trabalhar duro para produzir alimento. Eventuais batalhas e mortes ocorrem quando o antigo dono da granja e outros fazendeiros tentam tomar a granja de volta. A vida era dura na granja dos bichos, mas todos estavam dispostos a morrer pela causa. Os porcos eram mais inteligentes e aprenderam a ler e escrever. Escreveram  no fundo do celeiro os mandamentos da  revolução, entre eles o mais importante: “Todos os animais são iguais”.
As ovelhas, os cavalos, as galinhas e as vacas não conseguiam aprender a ler e passaram a fazer tudo que os porcos mandavam. Com o tempo, os melhores alimentos eram separados para os porcos, que alegavam ter um intenso trabalho intelectual e precisavam se alimentar melhor. Os  porcos passaram a exigir outras regalias, alegando sempre a mesma desculpa,  enquanto os demais animais pareciam trabalhar mais ainda e passavam fome. Os mandamentos da granja eram aos poucos alterados pelos porcos a seu favor, e não tardaram  a acontecer conspirações e traições entre eles, culminando na tentativa de assassinato e expulsão de um dos líderes. Os porcos apresentavam estatísticas mentirosas  para provar que a granja produzia cada vez mais alimentos, apesar da fome de todos (menos dos porcos).

A morte do ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-il, em 2011, mostrou até que ponto o isolamento e a alienação de um povo são úteis aos ditadores. Durante seu funeral o povo se comportava de forma desesperada, como se um deus tivesse morrido. O culto à personalidade do ditador é comum em regimes opressores, e Kim Jong-il se concedia os títulos de "Querido Líder", "Comandante Supremo" e "Nosso Pai". No entanto, seu filho Kim Jong-un estudou na Suíça, visitou a Disney japonesa e foi declarado "Lider Supremo" após a morte do pai. O Líder dos porcos na "Revolução dos Bichos" utiliza a mesma tática.
Aqueles que eram acusados de traição eram sumariamente executados. O terror se instaurou na granja dos bichos e os outros animais não sabiam mais pelo que tinham lutado, pois a vida parecia tão dura quanto era antes da revolução. Os porcos distorciam os fatos e alteravam a história da revolução, transformando heróis em traidores. Inventavam as mais absurdas mentiras, que com o tempo eram aceitas pelos outros animais. O líder dos porcos passou a se conceder honrarias e títulos pomposos, e seus filhos eram criados separados dos outros animais e recebiam instrução e conforto, enquanto os outros animais eram mantidos no isolamento e na ignorância. O principal mandamento da granja foi alterado pelos porcos para “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.
O livro A Revolução dos Bichos é uma das primeiras publicações antitotalitaristas. Foi patrocinado pela CIA e distribuído em vários países durante a Guerra Fria como uma arma anticomunista. Tornou-se uma publicação clandestina distribuída nos países do bloco soviético e até hoje é um livro proibido na China e na Coréia do Norte, por motivos óbvios. É uma leitura indispensável para aqueles que querem entender a face negra do totalitarismo, bem como descortinar os verdadeiros objetivos ocultos das ditaduras e governos tirânicos, que são basicamente a sede de poder e o conforto de seus governantes e filhos em detrimento da desgraça de um povo. O que mais os porcos poderiam desejar?

-Alfredo Carneiro-

Michel de Montaigne, o primeiro blogueiro

Os Ensaios, principal obra do filósofo francês Michel de Montaigne, foi submetida à Inquisição Católica e aprovada para publicação. Mas a Inquisição não percebeu as sutilezas deste grande filósofo.
Os Ensaios, principal obra do filósofo francês Michel de Montaigne, foi submetida à Inquisição Católica e aprovada para publicação. Mas a Inquisição não percebeu as sutilezas deste grande filósofo.
A principal obra de Michel de Montaigne(1533-1592), Os Ensaios, foi publicada em 1580. Nesta época, a Igreja Católica exercia censura sobre todos os livros a serem publicados. Sendo Montaigne um nobre francês, envolvido com política, submeteu espontaneamente seu livro aos censores da Igreja.
Montaigne se dizia cristão, mas adotava o relativismo cultural e fez, em sua obra, várias críticas aos costumes da tradição cristã, algumas muito severas. No entanto, entre um parágrafo e outro, ele afirmava coisas do tipo: “Os esforços de Sócrates foram inúteis, pois ele não chegou a conhecer Nosso Senhor Jesus”. O pensamento de Montaigne era difícil de captar e seu estilo parecia contraditório. Mas ele claramente incentivava o cristianismo.
Com isso, sua obra foi aprovada pela Inquisição. Montaigne, de fato, incentivava a aceitação da tradição cristã, não porque concordava com ela, mas por acreditar que devido à impossibilidade de atingir qualquer verdade, as pessoas deveriam se refugiar em alguma tradição. E o cristianismo era sua tradição mais próxima. Mas este nobre francês não via problema algum no fato dos outros povos adotarem outras religiões e tradições, uma vez que nenhuma delas, nem o cristianismo, têm verdade alguma, mas apenas utilidade social. Assim pensava Montaigne e esta foi a sutileza que a Inquisição não captou.
Seu livro é considerado uma das grandes obras da filosofia moderna. Os vários filósofos que avaliaram sua obra consideram Montaigne um cético e relativista cultural, pois ele afirma que o conhecimento humano não é possível. Escreveu em uma das vigas de seu escritório: “A única certeza é que de nada se tem certeza”. Suas ideias estavam escondidas nas sutilezas de seus textos contraditórios, como um código.
Sua obra é de fácil leitura e muito divertida. Montaigne fala de tudo, desde flores, animais, mulheres, traições e até de seu próprio pênis. Alguns leitores contemporâneos, em tom de brincadeira, dizem que este filósofo francês foi o “primeiro blogueiro”.

Heidegger


Moral e ética

Moral e ética
O dilema moral surge quando devemos fazer o que é certo no entanto não queremos fazer o que é certo. Um exemplo é estar atrasado para uma festa e, no meio do caminho, encontrar alguém que precise da nossa ajuda (um acidente, por exemplo). Não queremos perder a festa, mas devemos ajudar quem precisa, esta é uma escolha moral.
A ética é o conjunto de valores, hábitos, normas e ações difundidos por uma determinada sociedadeou grupo de pessoas, enquanto que a moral é a prática individual influenciada por esse conjunto de valores éticos. Ética e moral se complementam, uma vez que nossas decisões que envolvem outras pessoas são também influenciadas pelos valores éticos que recebemos de nossa família,  da sociedade, da comunidade ou do grupo que fazemos parte.
A palavra ética é oriunda do grego ethos, que é o espaço simbólico construído pelas práticas de um povo. O ethosnasce da interação dos indivíduos visando o que é bom e certo para a coletividade, e o produto dessa interação é transmitido às futuras gerações. É, portanto, uma construção social e histórica. É através da prática do que é considerado correto que  um sujeito se integra ao ethos de seu povo e por conseguinte se integra às esferas sociais.  Este indivíduo só será aceito nas esferas sociais de seu grupo se ele se integrar, através de sua atitudes, ao seu ethos. Oethos é, portanto, o rosto de um povo. Um bom exemplo é o respeito que os japoneses têm para com o mais velhos, que são vistos como portadores de experiência e sabedoria.  Podemos dizer então que o respeito aos mais velhos é um valor ético do povo japonês, transmitido de geração em geração, e aquele que não demonstra respeito aos mais velhos tende a ser rejeitado nas esferas sociais (política, cultural e de convivência).
Um exemplo de valor ético é o respeito que os japoneses têm para com o mais velhos, que são vistos como portadores de experiência e sabedoria. Podemos dizer então que o respeito aos mais velhos é um valor ético do povo japonês, transmitido de geração em geração, e aquele que não demonstra respeito aos mais velhos tende a ser rejeitado nas esferas sociais (política, cultura e convivência).
A moral, por sua vez, é um confronto pessoal entre aquilo que somos e a aquilo que devemos ser. Devemos ser educados, não devemos roubar nem matar,  devemos ajudar o próximo na medida do possível. Esses valores nos são repassados através de uma ética (o ethos do grupo em que vivemos).  Toda ação moral pressupõe um conjunto de valores éticos que a direcionam. A ética é o conjunto desses princípios e a moral a prática individual desses princípios. O dilema moral surge quando devemos fazer o que é certo no entanto não queremos fazer o que é certo. Um exemplo é estar atrasado para uma festa e, no meio do caminho, encontrar alguém que precise  da nossa ajuda (um acidente, por exemplo). Não queremos perder a festa, mas devemos ajudar quem precisa, esta é uma escolha moral. Temos então que decidir o que fazer, e esta é uma decisão pessoal. A ética, então, tem a função de nos apoiar em nossas escolhas morais.
Mas na interação entre moral e ética não existe rigidez. Os valores éticos são uma referência sobre o que devemos fazer, e não uma lei absoluta. É o caso da mentira. Não devemos mentir, mas, e se para salvar uma vida tivermos de inventar uma mentira? Certamente não iremos pensar: “Não devo mentir, pois é errado. Então vou deixar essa pessoa morrer”.  Por isso, o filósofo grego Aristóteles disse que a ação moral exige a sabedoria de lidar com o imprevisto, para tal ele recomenda a prudência e a sagacidade.
Por fim, percebam que os valores éticos também se alteram com o tempo. Se em algum momento de sua vida você perceber que os valores éticos de nosso povo causam sofrimento, é o momento de fazer escolhas morais, de questionar, de criticar e apontar os erros. O jovem não deve perpetuar eternamente os valores éticos, mas renová-los sempre que os julgar injustos.
Autor do texto: Alfredo Carneiro  Fonte: www.netmundi.org/pensamentos

Nietzsche e o Eterno Devir: “Viva o melhor possível e, só então,morra.”



Trecho do livro A Cura de Schopenhauer, de Irvin D. Yalom
Certa noite, sem conseguir dormir e precisando se animar um pouco, foi mexer nos livros da biblioteca. Não encontrou nada na sua área que pudesse, mesmo remotamente, aliviar sua situação, nada que dissesse como uma pessoa deveria viver, ou encontrar sentido nos dias de vida que ainda lhe restam. Viu então um exemplar bastante manuseado de Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche. Conhecia bem aquele livro: décadas antes, ele o tinha estudado muito quando escrevia uma artigo sobre a grande, mas não reconhecida, influência de Nietzsche sobre Freud.  AchavaZaratustra um livro corajoso, que, mais que qualquer outro, ensina como reverenciar e celebrar a vida. Sim, podia ser a resposta. Ansioso demais para ler com método, percorreu as páginas aleatoriamente e leu algumas linhas que estavam sublinhadas.
Entendeu que as palavras de Nietzsche significavam que era preciso escolher a sua vida – ele tinha de usufruí-la em vez de ser “usufruído” por ela. Em outras palavras, tinha de amar seu destino. E, acima de tudo, havia  a pergunta que Zaratustra sempre fazia  -se gostaríamos de repetir a mesma vida eternamente. Uma ideia curiosa e, quanto mais Julius pensava nela, mais seguro se sentia: a mensagem de Nietzsche para nós era viver de forma a querer a mesma vida sempre.
Continuou folheando as páginas e parou em dois trechos bem sublinhados com tinta rosa “Complete sua vida.”  ”Morra na hora certa.”
Isso mesmo. Viva o melhor possível e, só então, morra. Não deixe nada por viver. Julius comparava as ideias de Nietzsche a um teste de Rorschach, pois tinham tantos pontos de vista opostos que a conclusão dependia de quem lesse ou, no teste, de quem olhasse. Por mais que Zaratustra exaltasse, até glorificasse a solidão, por mais que exigisse o isolamento para poder pensar, ainda assim estava preocupado em amar e exaltar os outros, em ajudá-los a se aperfeiçoar e se exceder, com compartilhar com eles sua maturidade.
Colocou o livro de volta na estante, sentou-se no escuro e ficou olhando pela janela o farol dos carros, pensando nas palavras de Nietzsche. Após alguns minutos, conseguiu: descobriu o que fazer e como passar seu último ano de vida. Iria viver exatamente do mesmo jeito que o ano anterior e o antes do anterior. Gostava de ser terapeuta, gostava de se ligar a outras pessoas e ajudar a trazer algo a vida.

Jung

Carl Gustav Jung, Psiquiatra suíço