sábado, 3 de agosto de 2013

COMO A CIÊNCIA SE ESTABELECE E EVOLUI EM SEU PROCESSO

COMO A CIÊNCIA SE ESTABELECE E EVOLUI EM SEU PROCESSO

ANITA MORGENSZTERN


Resumo:
O presente artigo pretende apresentar a visão de Thomas Kuhn sobre o progresso científico baseado em seu livro A estrutura das revoluções científicas. Para tal, trata-se de conceitos-chave como ciência normal, crise, ciência extraordinária, paradigma e revolução científica. A partir da investigação sobre a abordagem histórica de análise científica Kuhniana, aborda-se o processo de evolução das ciências – no que consiste a prática da ciência, como evolui e como ocorrem as mudanças de um sistema científico a outro (mudança de paradigmas).

Palavras-chave: Revolução científica. Paradigma. Abordagem histórica. Thomas Kuhn

1. Introdução
1.1 Filosofia da ciência

O movimento filosófico dominante do início do século XX nos países de língua inglesa foi o positivismo lógico, que se originou com o Círculo de Viena, que, na área da filosofia da ciência, era formado por filósofos como Rudolf Carnap, Carl Hempel e Moritz Schlick. Fugindo do nazismo, a maioria dos neopositivistas emigrou aos Estados Unidos, exercendo uma grande influência na vertente filosófica do país até meados da década de 1960. Esse grupo fez ressurgir uma visão empirista/positivista da filosofia da ciência, dividindo os tipos de conhecimentos entre analítico e empírico. O que não fosse nem um nem outro, como a metafísica, não seria considerado conhecimento.

O objetivo do empirismo lógico era analisar a estrutura das teorias científicas, saber como elas funcionam, delimitar o que era conhecimento científico e reconstituir a linguagem científica para que esta fosse a mais precisa possível. O início do século XX assistiu a grandes descobertas científicas, principalmente na área da física, o que provocou grande discussão filosófica sobre a questão do que poderia ser considerado como verdadeiro conhecimento científico. Embora tivessem a ciência como objeto de estudo, a análise sincrônica das ciências feita pelos neopositivistas não considerava a evolução científica em geral, mas sim o seu funcionamento lógico. Na segunda metade do século XX, porém, filósofos como Thomas Kuhn colocaram em cena uma investigação histórica da ciência, com o objetivo de analisar não apenas o produto das teorias científicas, como também a própria atividade científica como um todo - seus problemas, desenvolvimento e evolução. Essa abordagem histórica levou os filósofos da ciência a descobrirem e investigarem novos tipos de problemas, para além da estrutura das teorias e modelos científicos. Tais problemas incluem a natureza da evolução científica (cumulativa x não-cumulativa), como operam as tradições de pesquisa, como são tratados os problemas científicos na prática (e como o foram ao longo da história), e assim por diante. Thomas Kuhn, filósofo cuja obra será abordada no presente artigo, é um dos principais contribuintes da abordagem histórica da filosofia da ciência.

2. Thomas Kuhn e A estrutura das revoluções científicas

Thomas Kuhn, Graduado em física pela Universidade Harvard e filósofo atuante, principalmente nas décadas de 1960 a 1980, foi historiador da ciência e usou seu material de pesquisa em suas análises e teorias filosóficas. O tema central de seus estudos é a investigação da natureza da ciência, a evolução científica e a mudança conceitual de teorias. A reflexão do filósofo é sempre baseada em casos empíricos notórios, que exemplificam ao mesmo tempo em que servem de fundamento para a explicação de como as ciências funcionam e progridem. Sua filosofia se opõe à dos filósofos do Círculo de Viena.

O livro a ser analisado neste artigo, A estrutura das revoluções científicas, é composto de prefácio, introdução e doze capítulos, em que ele defende sua argumentação sobre a evolução científica feita por meio do que ele chama de revoluções científicas, conceito a ser esclarecido junto com outros conceitos-chave ao longo do artigo. Além dos doze capítulos, a edição de 1969 traz um posfácio de sete capítulos em que o autor reforça seus argumentos a partir de críticas feitas por outros filósofos sobre algumas de suas ideias.

O interesse principal de Thomas Kuhn ao longo da obra é chegar à estrutura das revoluções científicas, períodos de grande movimentação científica em que ideias e teorias já existentes são substituídas radicalmente por novas teorias, como ocorreu com a revolução copernicana ou com a teoria da evolução de Darwin.

3. Alguns exemplos de casos empíricos analisados em A estrutura das revoluções científicas

A abordagem histórica de Thomas Kuhn baseia-se principalmente na análise de casos empíricos para a formulação de como a pesquisa científica em geral funciona e como ocorrem as substituições de uma teoria por outra. Para ter-se uma ideia desse tipo de análise, cita-se neste item alguns dos exemplos mais notórios trazidos por Kuhn para ilustrar sua argumentação.

Os exemplos mais óbvios de revoluções científicas são aqueles episódios famosos do desenvolvimento científico que, no passado, foram frequentemente rotulados de revoluções. (KUHN, 1991, p.25)

Eis alguns exemplos:
A revolução copernicana: Um dos primeiros passos para o desenvolvimento da visão moderna e contemporânea de ciência foi a substituição da teoria geocêntrica, que afirmava que a Terra era o centro do sistema solar (e todos os planetas giravam em torno de nós), pela teoria heliocêntrica, segundo a qual os planetas giram em torno do sol. A visão ptolomaica havia sido predominante por 1.800 anos quando Copérnico sugeriu que o sol era o centro. A mudança resolveu problemas de cálculos que os astrônomos tinham há séculos.
A natureza da luz: Isaac Newton argumentava que a luz seria formada por partículas que se refletem sobre uma superfície. Sua teoria ficou conhecida como “modelo corpuscular da luz”. Em contraposição a esse modelo surgiu o “modelo ondulatório” de Huyghens, segundo o qual a luz é composta por ondas. Albert Einstein defendeu a tese de que um feixe de luz são unidades de energia, os fótons. Hoje em dia pode-se considerar a luz como onda ou partícula.
A teoria da relatividade: A teoria da relatividade de Einstein revolucionou as ideias fundamentais da Física clássica de Isaac Newton. Segundo Einstein, o espaço e o tempo não são grandezas absolutas, independentes dos fenômenos, mas sim relativas, dependentes do observador.
Teoria da evolução das espécies: Teoria segundo a qual as espécies se originam por meio de um processo de evolução que ocorre através da luta pela sobrevivência e da seleção natural. Essa teoria é contrária à visão criacionista e gerou (e ainda gera) um intenso debate científico.

4. Paradigma

Como visto no item anterior, Kuhn mostra que não se pode abrir mão dos casos empíricos científicos da história para se analisar completamente a ciência e sua evolução.  Esses exemplos ilustram um conceito central para a filosofia kuhniana da ciência: o paradigma. Paradigmas são tradições de pesquisa cuja aceitação é pré-requisito para se fazer ciência. Um paradigma científico é composto por uma teoria, suas suposições e problemas específicos já resolvidos pelos pressupostos daquela teoria, tudo isso constando nos livros e manuais científicos daquele paradigma específico aceito pelos membros de uma determinada comunidade científica. Mas um paradigma é mais que uma teoria aceita por um grupo de cientistas. Trata-se da aceitação de quais problemas são considerados, como a pesquisa deve ser conduzida no futuro, quais métodos são apropriados para se tratar os problemas e quais soluções são aceitáveis dentro da teoria da tradição de pesquisa. É um compartilhamento de crenças, suposições e valores.
[Os paradigmas] proporcionam modelos dos quais brotam as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica. São essas tradições que o historiador descreve com rubricas como: ‘Astronomia Ptolomaica’ (ou ‘Copernicana’), ‘Dinâmica Aristotélica’ (ou ‘Newtoniana’)... (KUHN, 1991, p.30)
Os paradigmas, segundo Kuhn, se fixam e são aceitos por trazerem soluções mais aceitáveis aos problemas considerados graves em uma determinada época. Depois de fixados, processo que será esclarecido mais adiante, os paradigmas impõem limites à pesquisa, formando como que uma “redoma protetora” dentro da qual os cientistas exercem o que o filósofo chama de ciência normal.

5. Ciência normal

“...ciência normal, isto é, (...) a gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa determinada” (KUHN, 1991, p.31)
A ciência normal, ou seja, as atividades de pesquisa “do dia-a-dia”, funcionam, para Kuhn, como solucionadoras de quebra-cabeças. Isso quer dizer que o trabalho do cientista é resolver pequenos problemas fornecidos pelo próprio paradigma e cuja solução se encaixe dentro dos limites desse paradigma. A ciência normal seria, como diz o filósofo, uma “atividade de limpeza”, em que o cientista vai limpando (eliminando) os pequenos “quebra-cabeças” que surgem em seu trabalho. “O desafio apresentado pelo quebra-cabeça constitui uma parte importante da motivação do cientista para o trabalho” (KUHN, 1991, p.59). O papel do quebra-cabeça é também testar a capacidade científica de resolução de problemas. Faz parte do trabalho do pesquisador. Por isso, para ser aceito e caracterizado como um problema a ser solucionado em uma tradição de pesquisa, o “quebra-cabeça” precisa “obedecer a regras que limitam tanto a natureza das soluções aceitáveis como os passos necessários para obtê-las.” (KUHN, 1991, p.61). Ou seja, ele tem de estar dentro dos limites impostos pelo paradigma. Kuhn faz ainda uma comparação desse tipo de problema a um jogo de xadrez. O jogador pode pensar em algumas soluções e movimentos para avançar e se livrar de um ataque, mas apenas dentro das regras do jogo. Não pode mover a torre na diagonal ou o bispo na vertical. Isso quer dizer que é preciso haver uma adesão aos princípios conceituais, metodológicos e instrumentais do paradigma quando o cientista tenta resolver um quebra-cabeça.  Isso tudo se dá sem a intenção por parte do pesquisador em buscar novos tipos de problema que não estejam inseridos naquela tradição de pesquisa. Problemas assim muitas vezes são ignorados pelo cientista, que está sempre preocupado em articular teorias e fenômenos de seu próprio campo de estudo. Se um pesquisador encontra um problema que está em conflito com seu paradigma, ele pode muito bem supor que, por exemplo, sua técnica de experimentação esteja com algum problema, e não que o paradigma como um todo esteja errado. Nesse sentido, a ciência normal se mostra como uma atividade extremamente conservadora.

O conservadorismo observado na ciência normal, argumenta Kuhn, é essencial para a atividade científica cotidiana, que é cumulativa e visa manter a estabilidade da pesquisa. Pode-se dizer que um dos objetivos da ciência normal seja manter e aperfeiçoar o paradigma, ou seja, conformar os fatos significativos aos limites do paradigma em questão. Ademais, o foco em um grupo específico de problemas faz com que os cientistas investiguem um determinado aspecto da natureza “com uma profundidade e de maneira tão detalhada que de outro modo seriam inimagináveis.” (KUHN, 1991, pg.45) Consequentemente, os cientistas em seu trabalho normal não estão interessados em refutar a própria teoria que escolheram pesquisar.

(...) esse empreendimento parece ser uma tentativa de forçar a natureza a encaixar-se dentro dos limites pré-estabelecidos e relativamente inflexíveis fornecidos pelo paradigma. A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de fenômeno. (KUHN, 1991, p.45)

Outro aspecto característico da ciência normal é o da iniciação do novo pesquisador. Somente depois de várias experiências científicas de aprendizagem é que o estudante vai passar a ver os fenômenos com olhos de pesquisador, enxergando o que o cientista enxerga e respondendo como o cientista responde. A ciência normal requer treinamento.

Em suma, podemos caracterizar a ciência normal, a partir dos conceitos descritos acima, como a atividade científica conservadora e cumulativa - durando geralmente décadas ou até mesmo séculos - que se dá dentro de uma tradição de pesquisa, e que se ocupa principalmente com três classes de problemas, a saber: “determinação do fato significativo, harmonização dos fatos com a teoria e articulação da teoria”. (KUHN, 1991, p.55). O paradigma fornece ao cientista os instrumentos (teorias, conceitos, valores) para estabelecer o que sejam fatos significativos a serem analisados. Na sequência, o pesquisador tenta harmonizar esses fatos ou problemas com a teoria (no caso dos problemas temos o conceito de “quebra-cabeça”), e depois articula a teoria com as soluções admitidas dentro do paradigma a fim de, entre outras coisas, aperfeiçoá-lo.

6. Ciência extraordinária
O que acontece quando um determinado problema se torna recorrente e os cientistas não conseguem resolvê-lo dentro do paradigma? Segundo Kuhn, começa o período de ciência extraordinária. Analisemos os conceitos envolvidos nesse período científico.
Quando o cientista se depara com um problema, podem acontecer três coisas: 1) O problema é resolvido como um quebra-cabeça dentro do paradigma, com uma solução que se encaixa na tradição de pesquisa e é satisfatória ao aperfeiçoamento da teoria. 2) O problema é visto como não solucionável para o estado em que a ciência se encontra (ou é simplesmente descartado como não sendo relevante) e é deixado de lado até que uma geração futura disponha dos meios para resolvê-lo. 3) Começam a surgir problemas relacionados ao problema central, que se torna recorrente na prática científica e ocupa boa parte da pesquisa. Quando este último ocorre, temos anomalias, ou lacunas de conhecimento, que podem levar a uma crise no paradigma.
As crises ocorrem quando os problemas colocam em xeque a validade do paradigma. Nesse período de crise, que Kuhn chama de ciência extraordinária, há insegurança e instabilidade teórica, e geralmente vão surgindo tentativas de paradigmas rivais com o propósito de substituir aquele que está em crise. Na ciência extraordinária, há um paradigma desestruturado e outros que ainda não se estabeleceram como teorias substituintes.

Quando os cientistas de uma determinada tradição não conseguem resolver os problemas recorrentes como um quebra-cabeça, temos a crise e a ciência extraordinária. A anomalia passa a ser reconhecida e os cientistas se voltam mais para as tentativas de resolvê-la do que para o resto de sua prática científica. O enfoque são os problemas e o resto da teoria também passa a ser questionado. Para Kuhn, a ciência extraordinária é também um período pré-paradigmático, já que há uma intensa pesquisa para o descobrimento de um paradigma estável, com novos conceitos e métodos, que responda aos problemas de maneira satisfatória.

A crise gera a proliferação de candidatas a paradigma e só acaba quando uma delas é aceita e adotada pela comunidade científica, já que a teoria “capenga” só não vale mais quando há uma alternativa viável para substituí-la.

O período durante o qual a luz era considerada ‘algumas vezes como uma onda e outras como uma partícula’ foi um período de crise – um período durante o qual algo não vai bem – e somente terminou com o desenvolvimento da Mecânica Ondulatória e com a compreensão de que a luz era entidade autônoma, diferente tanto das ondas como das partículas. (KUHN, 1991, p.149)

7. Revolução científica

Essas transformações de paradigmas da Óptica Física são revoluções científicas e a transição sucessiva de um paradigma a outro, por meio de uma revolução, é o padrão usual de desenvolvimento da ciência amadurecida. (KUHN, 1991, pg.32)

A ciência extraordinária que começa com a crise culmina na transição de um paradigma a outro, que pode gerar uma nova tradição de pesquisa de ciência normal. Esse processo de transição, diferentemente da prática apenas da ciência normal, não é cumulativo, mas sim uma construção por meio de novos princípios, valores, métodos e aplicações. A mudança de conceito sobre um problema dentro de um novo paradigma não é apenas uma mudança de interpretação. Segundo Kuhn, é como se o cientista passasse a trabalhar em um mundo diferente, já que com o paradigma muda também a visão dos cientistas, seus objetivos e o modo de trabalho dentro da nova tradição de pesquisa.

No capítulo 9 de A estrutura das revoluções científicas, Thomas Kuhn fala sobre essa mudança de perspectiva pela qual o cientista passa quando ocorre uma revolução científica e uma posterior mudança de paradigma. Os pesquisadores, com novos instrumentos e tentativas de construção de novas teorias, passam a olhar os mesmo objetos “em novas direções”. “Aquilo que antes da revolução aparece como um pato no mundo do cientista transforma-se posteriormente num coelho.” (KUHN, 1991, p.146).

Para explicar o impacto da mudança para o cientista, Kuhn faz uma analogia. Diz ele que enquanto um estudante vê linhas sobre um papel, o cartógrafo vê a representação de um terreno. Somente depois de muito treinamento o iniciante pode enxergar o mundo de seu trabalho científico pelas lentes de um pesquisador. Assim é quando ocorre uma revolução científica e mudança de paradigma. É como se o pesquisador tivesse que reaprender a olhar os mesmo fenômenos de antes, mas sob uma nova ótica, já que o mundo que ele estuda era determinado pela tradição à qual pertencia antes, quando ainda estava no paradigma de ciência normal anterior. Se a tradição muda, a percepção também precisa mudar e o cientista tem de ser reeducado dentro do novo paradigma, mais ou menos como um principiante. E aqui entra também o aspecto da incomensurabilidade. Para o próprio cientista, é como se os dois paradigmas, o “velho” e o “novo”, pertencessem a planetas diferentes.

Conclusão

O mundo científico muda bastante. Um breve estudo sobre a história da ciência já nos fornece material para sabermos que muitas teorias científicas mudaram radicalmente ao longo do tempo, o que modificou, consequentemente, o modo como entendemos os fenômenos que nos cercam. Mas como ocorrem essas mudanças? Há algum padrão segundo o qual as tradições de pesquisa mudam ao longo do tempo? Como explicar essas trocas tão radicais de visão?

Thomas Kuhn se empenhou no projeto de investigar como a ciência opera e evolui. Para isso, abriu mão da abordagem logicista e pegou para si a enorme tarefa de analisar historicamente os grandes eventos científicos da humanidade. Desse modo, analisando os fatos empíricos e as mudanças radicais de paradigma ao longo da história da ciência, Kuhn formulou sua teoria, segundo a qual a ciência evolui com períodos de ciência normal precedidos e sucedidos por revoluções científicas.

Kuhn traz uma ilustração no capítulo 9 de A estrutura das revoluções científicas, sobre a adaptação do cientista ao novo paradigma que ilustra bem a visão do autor sobre o processo de evolução das ciências. Em um experimento, a pessoa recebe óculos que invertem as imagens, colocando-as “de cabeça para baixo”. No início, há “desorientação extrema e crise pessoal” (como um momento de crise na ciência). Porém, com o passar do tempo, a pessoa vai se adaptando, aprendendo a enxergar o mundo em que tem a visão confusa (percepção da anomalia e tentativas de solução). Depois desse período de adaptação, os objetos passam a ser vistos de maneira “normal”, ou seja, o campo que cerca o sujeito foi modificado segundo sua nova visão (imposição de um novo paradigma e aprendizado por parte do cientista para que este possa trabalhar dentro do novo mundo que lhe é apresentado. O novo paradigma passa a ser a nova “ciência normal”).

O trabalho de Thomas Kuhn é um dos mais influentes da filosofia da ciência dos últimos 50 anos. A sua teoria das revoluções científicas (ciência normal – anomalias – crise – ciência extraordinária – revolução científica/mudança de paradigmas – ciência normal) se aplica com precisão à maioria dos eventos de evolução de um paradigma a outro. Uma das grandes novidades de Kuhn foi defender que a ciência evolui de forma fragmentada, que não se trata de um processo cumulativo de progresso. Essa visão e a obra do filósofo vêm servindo de base para discussões, principalmente para quem defende a análise histórica/empírica na investigação da filosofia da ciência e para quem argumenta em favor de um relativismo epistemológico científico.


Referências bibliográficas

DAYRELL, Eduardo. Mudar de Paradigma. Crítica na rede. 13/010/2008. Disponível em: http://criticanarede.com/kuhn.html. Acesso: 21 de abril de 2013.
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora Perspectiva, 1991.
OKASHA, Samir. Philosophy of Science: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2012.
UCB (Universidade Católica de Brasília). Filosofia da ciência. Conteúdo da disciplina on line. Brasília: UCB Virtual, S. D.
UCB (Universidade Católica de Brasília). História da filosofia contemporânea. Conteúdo da disciplina on line. Brasília: UCB Virtual, S. D.

Nietzsche

“Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?”

Nietzsche – Assim falou Zaratustra

Ótima palestra sobre liberdade

Uma única história


A palestra da Chimamanda é realmente admirável. A “história única”, ou ver apenas um lado da história, acaba sendo um dos grandes motivos do preconceito e do estereótipo que existem com tanta força e que são a causa de tantas injustiças contra povos e etnias. Mas essa percepção de que todos temos várias histórias, todos somos formados por vivências diversas, experiências, mudanças (de lugar, de atitude, de pensamento) e influências pode ser relacionada, a meu ver, ao conceito de identidade pessoal. O que forma uma pessoa? O que nos faz poder dizer que alguém é a mesma pessoa que foi há dez anos? Não podemos conhecer ninguém por completo se não conhecemos as suas histórias. Ninguém tem apenas uma única dimensão, um único lado. 


Heráclito


Shopenhauer e a vontade de um mundo sem sentido



Schopenhauer (1788-1860) foi um filósofo que apresentou ao mundo um pensamento forte e original, destoando do pensamento filosófico de sua época.  A filosofia até então valorizava a razão e havia descoberto o “eu” (penso, logo existo). Dentro do contexto da filosofia moderna (séc. XV ao XIX), a razão era a “salvadora da pátria”, seria ela que finalmente levaria a humanidade a um destino glorioso. No entanto, para Schopenhauer a razão não era mais que um livro-caixa, que registra entradas e saídas de mercadorias. Para ele, a razão de forma alguma direciona nossas ações. Ela pode auxiliar o comerciante a se organizar e criar estratégias de vendas, mas o que o motiva, o que o faz agir, pode ser o desejo de poder, o orgulho, o amor de uma mulher ou a proteção de sua família, enfim, algo arraigado em níveis mais profundos. O que é esse algo? Schopenhauer chamou esse algo de vontade.
O mundo é vontade. Vontade de viver, vontade de vencer, vontade de amar e ser amado.  A vontade, muito além da razão humana, se estende a toda a natureza, que nos demonstra todos os dias que a vontade, irracional e cega, move todos os seres vivos. Todos os seres lutam por sua vida, desde insetos até as plantas, e o ser humano não está além da natureza. A razão iludiu o homem com a sensação de poder e domínio, mas Schopenhauer mostrou que o ser humano mal tem o domínio de si mesmo, sendo ele mesmo movido por uma vontade irracional. Descartes descobriu o “eu”, e  Schopenhauer mostrou que não temos controle algum sobre este “eu”.
Schopenhauer chegou a esta conclusão depois de voltar seu pensamento para nosso mundo interior, onde observou o movimento de forças irracionais e poderosas que dão energia a todo o teatro humano.  Ele ainda faz outra afirmação ousada: a vontade que move o mundo não tem um objetivo elevado, ou um sentido maior. O mundo movido por esta força irracional e sem sentido seria, ele mesmo, sem sentido profundo algum.  Resta ao homem a coragem de aceitar esse fato ou se refugiar de forma ilusória naquilo que Schopenhauer chamou de “metafísicas populares”, as religiões.
Esta nova perspectiva filosófica provocou grande impacto em Nietzsche e posteriormente em Freud, que deram prosseguimento à observação destas forças inconscientes que direcionam as ações humanas.  Schopenhauer é considerado um dos precursores da psicanálise e teve o mérito de descortinar o grande teatro de marionetes da vida.
Autor do Texto: Alfredo Carneiro  Fonte: www.netmundi.org/pensamentos

Filme Medianeras



O filme Medianeras é muito rico e critica vários aspectos da vida contemporânea nas grandes cidades. A sociedade urbana de prédios grandes e apartamentos pequenos, da correria, da falta de sentido que a rotina acaba dando à vida das pessoas. Essa foi a primeira mensagem que percebi; a falta de sentido, de propósito na vida. Como defendido pelo psiquiatra Viktor Frankl, o que nos move é a busca de um sentido, de um propósito para tudo o que fazemos. Segundo ele, ninguém pode nos tirar a liberdade de escolher como reagir às situações, o que fazemos das experiências que temos e que motivos encontramos para continuar seguindo em frente. Parece que o filme tenta mostrar um pouco disso, dessa “liquidez” da vida moderna, em que as coisas muitas vezes parecem não levar a nada além de si mesmas. Casa, trabalho, filhos. Ou no caso dos personagens do filme, apartamentos pequenos, trabalhos maçantes e uma vida social sem propósito e desconexa.

O filme também critica o papel da internet em nosso cotidiano. Diz o personagem principal no início do filme: “Faz dez anos que me sentei na frente do computador e tenho a sensação de que nunca mais me levantei.” Depois, mais adiante, diz: “A internet me aproxima do mundo e me afasta da vida.” Acho que o filme pinta com cores um tanto fortes o papel da internet na vida caótica moderna. Como toda ferramenta, a internet pode ser benéfica ou não, depende do uso que se faz dela. Se há um equilíbrio entre a vida virtual e a vida “presencial”, é possível aproveitar a rede para, por exemplo, aumentar o nosso capital social, construindo redes de interação para objetivos diversos. O problema maior é quando a internet se torna a única vida social da pessoa, o que acaba isolando-a mais ainda do convívio dos outros. Mas daí não penso que seja “culpa” da internet, mas que se trata de um problema que provavelmente já existia na vida de muitos. Para não fazer da internet um meio de anulação da vida social é preciso talvez uma certa sagacidade, saber escolher o que nos acrescenta e o que nos prejudica...

Recomendo o filme, que está disponível na íntegra no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=yKwxlP_DW_8

Hegel



Racionalismo e empirismo: uma introdução



O racionalismo é uma corrente de pensamento iniciada por Descartes(1596 – 1650) e buscava entender o mundo e investigar a verdade através do uso exclusivo da razão. Acreditava-se, no racionalismo, que a razão fosse capaz de explicar todas as coisas deste mundo, e as coisas além deste mundo (como Deus e a alma). Foi um movimento que deu à razão poderes absolutos, desprezando inclusive a experiência,  as evidências físicas e os sentidos. Se algo podia ser explicado racionalmente, de forma lógica, então haveria de ser verdade, mesmo sem comprovação da experiência.
René Descartes  inaugurou essa corrente de pensamento ao utilizar um método para investigar a verdade, baseado na evidência lógica  e na investigação rigorosa. Um método semelhante ao que seria posteriormente utilizado pela ciência.   É seu um dos pensamentos mais famosos da filosofia,  escrito em seu livro Discurso sobre o Método:
“Sabendo que nossos sentidos com frequência nos enganam, quis imaginar que nada existisse que correspondesse ao que acreditamos. Mas, enquanto desejava considerar tudo falso, eu era obrigado a pensar que eu, ao pensar, fosse alguma coisa. Percebi então que a verdade penso logo existoera sólida e verdadeira.”
Assim, fica claro que, para o racionalismo, podemos atingir verdades sem o apoio dos sentidos. Descartes descobre que ele existe de forma racional, e não tocando e vendo seu corpo. Com semelhante raciocínio Descartes chega a conclusão da existência de Deus e da alma. Ele também utilizou seu método para pesquisar a natureza e o corpo humano. Foi o primeiro a descrever corretamente a formação do  arco-íris  e sua forma de investigar influenciou toda a ciência moderna.  Os principais filósofos racionalistas foram : Descartes, Espinosa e Leibinz.
Os filósofos empiristas, por sua vez, acusaram os racionalistas de criar sistemas filosóficos complexos e distanciados da realidade.  Para os empiristas nada existe na mente que não tenha passado pelos sentidos (pelas sensações).  Nascemos como uma folha de papel em branco onde as sensações imprimem nossa experiência e formam nosso conhecimento, portanto, só podemos pensar sobre aquilo que nos foi dado pela experiência. Podemos investigar o mundo e o homem, mas nada além do homem.  A razão só pode pensar sobre as coisas que foram impressas em nossa mente.
Aquilo que está fora de nossa experiência não pode ser pensado. Para os empiristas o raciocínio de  Descartes, que conclui a existência do “eu”,  de Deus e da alma, é considerado um erro, pois são conclusões obtidas sem o apoio dos sentidos. Enquanto o racionalismo desprezava os sentidos e valorizava a razão, o empirismo valorizava os sentidos e duvidava da capacidade da razão.  Podemos investigar somente o mundo e as coisas que nos são dadas pelos sentidos. Foi o filósofo John Locke(1632-1704) que criou o conceito de tábula rasa para dizer que nascemos como uma folha de papel em branco e recebemos a experiência através dos sentidos de forma passiva.
Os principais filósofos empiristas foram John Locke, George Berkeley e David Hume.  David Hume(1711 – 1776) é considerado o mais importante deles, realizou um ataque ao racionalismo em seu livro Investigação sobre o Entendimento Humano. Foi a obra de David Hume que posteriormente chamou a atenção de Immanuel Kant, que irá criar o grande sistema filosófico que une  empirismo e  racionalismo. Tanto o racionalismo como o empirismo são correntes filosóficas que fazem parte da filosofia moderna (séc. XV ao XIX).
Autor do texto: Alfredo Carneiro  Fonte: www.netmundi.org/pensamentos

Descartes


O professor e a motivação para estudar


É uma preocupação recorrente e pertinente de muitos professores saber como motivar o aluno em sala de aula, como fazê-lo prestar atenção, participar e realmente aprender a matéria. Mas é também muito importante o modo como o aluno desenvolve o seu estudo em casa. Estudar sozinho tem um papel crucial, pelo menos para mim, na fixação e no entendimento do conteúdo. É quando estuda sozinho que o aluno pode, a seu tempo, se aprofundar, revisar, desenvolver raciocínios, detectar dúvidas etc. É claro que o estudante do ensino médio não vai virar um expert em nenhuma matéria estudando sozinho, ainda mais com tantas disciplinas no currículo. Mas esse é um bom hábito que precisa ser incentivado pelos pais e pelos professores.

No desenvolvimento do hábito de estudo, entra também a questão já levantada aqui da motivação. E, sendo sinceros, todos aqui sabem como é difícil, principalmente para um adolescente, deixar de fazer uma atividade prazerosa para estudar. O problema é que a motivação externa é muitas vezes uma prova, como o vestibular. Ultrapassada essa etapa, o gosto pelo estudo costuma não permanecer. Acredito que se a aprendizagem significativa é estimulada na escola, o aluno passa a pensar os conteúdos de modo diferente, mais complexo, e isso é transferido para a aprendizagem individual. Se uma aula de história é interessante e faz conexões com outras aulas, como filosofia e geografia, por exemplo, a pessoa pode incorporar esse modo de relacionar os conhecimentos quando estuda sozinha.


No final das contas, o professor acaba sendo um pouco responsável pela maneira como o aluno encara a matéria em casa. Conheci uma adolescente que queria prestar vestibular para sociologia, mas não conseguia estudar matemática porque “detestava” o professor. Sua mãe lhe mostrou que a matemática seria importante até mesmo no curso de sociologia, já que é preciso estudar estatística. Essa mãe criou a motivação específica que faltava para a filha querer entender a matéria. Além disso, podemos ver nesse exemplo que os sentimentos, o “gostar ou não” da matéria, pode ser traduzido em gostar ou não do professor.