quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Utilitarismo


A pena de morte é um ato moralmente aceitável? Para o utilitarismo, se esse ato proporcionar a felicidade ou a ausência de dor de muitos, ele pode ser aceitável.
O utilitarismo é uma teoria ética surgida no século XIX como resultado do trabalho dos pensadores Jeremy Bentham(1748-1832) e John Stuart Mill(1806-1873). Atualmente existem variações do utilitarismo defendidas por filósofos como o australiano Peter Singer, conhecido por sua militância pelos direitos dos animais e ética prática. Essa teoria ganhou força devido à sua praticidade e objetividade, bem como suas possibilidades no âmbito das políticas públicas.  Ao contrário das “éticas de dever”, como a kantiana ou mesmo os mandamentos religiosos (como p.ex. “não matarás”), o utilitarismo avalia cada caso e pode permitir que atos abomináveis, como matar, sejam justificados desde que esses atos proporcionem o bem-estar de uma grande quantidade de pessoas.
O utilitarismo considera o prazer como bem supremo.  Para efeito de interpretação, prazer, no utilitarismo, significa a felicidade e a ausência de dor. Mas o conceito de prazer surge com a ideia de maximização, ou seja, minhas atitudes devem proporcionar a maior quantidade de felicidade (ou ausência de dor) para a maior quantidade possível de pessoas. Assim, não estamos falando de uma busca por prazer egoísta, mas de uma teoria que tem por objetivo nos ajudar em nossas decisões éticas.  O utilitarismo tem um forte apelo social e humanitário, fruto de uma reflexão mais ampla e atualizada de nossa experiência.
Mas o que é felicidade?  John Stuart Mill sabia da dificuldade em definir a felicidade, devido à sua subjetividade, mas afirmou o seguinte:
“A utilidade inclui não somente a busca da felicidade, como também a prevenção ou mitigação da infelicidade; e se o primeiro desses fins for quimérico, o último abrirá um campo de ação mais amplo, responderá a necessidades mais imperativas, enquanto a humanidade julgar conveniente a vida.”
Nossas decisões então devem ser guiadas pelo princípio da maximização do bem, e para isso os fins justificam os meios, desde que esse fim seja o valor supremo do utilitarismo: o bem-estar de muitos. Em uma determinada situação, qual decisão devo tomar? Qual a decisão moralmente mais aceitável? Um filósofo utilitarista responderia que é aquela que vai proporcionar a felicidade, ou evitar a dor, da maior quantidade de pessoas envolvidas na decisão.
O utilitarismo, desde sua criação, foi bem recebido e suas ideias originais foram  alteradas por outros filósofos. É também classificada como uma ética consequencialista, uma vez que nos força avaliar as consequências de nossos atos bem como assumir nossas responsabilidades.

Teologia e política em Espinosa

A noção do mal inerente ao homem e de sua miséria como estatuto ontológico é um conceito teológico que pode ter implicações políticas. Uma sociedade que se vê como incapaz de se guiar pelo próprio esforço, já que não pode escolher o bem a não ser pela graça, pode acabar tendo um líder despótico que se diz agraciado/representante de Deus na Terra. A relação que Espinosa faz entre o teológico e o político é que esse pessimismo generalizado causado pelas doutrinas da época, o que geraria também uma falta de uso do pensamento racional, causaria na política a arbitrariedade e a superstição. São sintomas da desgraça que têm consequências na sociedade como um todo.
Além disso, essa concepção da graça como única forma de salvação se choca com o livre-arbítrio e a motivação para agir. A ideia que Espinosa defende, de que as pessoas devem ser julgadas por suas obras, também confere um caráter político à sua análise teológica. O agir do homem e como ele contribui para o mundo importa mais que a graça de quem é ou não escolhido.

Ademais, Espinosa viu nas posições calvinistas de que a determinação da verdade é exclusiva do clero uma pretensão ao despotismo. Espinosa viveu numa época em que as leis religiosas eram extremamente influentes na sociedade


Essa ligação está no conceito das grandes religiões monoteístas do Deus pessoal, criador e que intervêm na vida dos homens, diferente da concepção imanentista da realidade da substância de Espinosa. A religião baseada na graça leva o homem à obediência (juntamente à noção do mal inerente, da culpa e da insuficiência humana), o que faz com que ele caia na mão de religiosos e governantes charlatães “em troca de meia dúzia de mentiras inaceitáveis a qualquer homem de boa fé”. 

Alberto Caeiro


Na natureza selvagem


Descartes e o mundo real

Vou compartilhar aqui um pequeno raciocínio para tentar entender essa justificação do conhecimento do mundo “real”, fora da consciência, de Descartes. Fiquei me perguntando se Descartes não poderia ter usado o próprio axioma de que as ideias formais correspondem a realidades objetivas para justificar o conhecimento do mundo, ficando no argumento dessa correspondência entre realidade e pensamento sem lançar mão de Deus. Acontece que ele colocou em seu sistema de dúvidas a hipótese do gênio maligno (e se existisse um gênio maligno que nos engana e nos faz ver e viver uma ilusão?). Então, para o filósofo, somente a ideia de Deus é perfeita e ela deve ser causada por uma realidade objetiva perfeita, o que garante a existência Dele. Então Deus existe, o que exclui a hipótese do gênio maligno, já que a enganação é uma imperfeição e Deus é sumamente bom, não deixando que os nossos estados mentais sejam controlados por tal esquema maligno. O Deus como “muleta epistemológica” é aquele que surge para excluir a hipótese do gênio e garantir a certeza de nossos estados mentais...

Einstein

Albert Einstein, (1879-1955), Físico Alemão, O Pensamento Vivo de Einstein

Fonte: http://www.netmundi.org/pensamentos

A consolação da filosofia


Falo um pouco sobre Boécio e A consolação da filosofia (uma ideia geral de um texto tão rico...).
Boécio, pelo grande exemplo que pude ler em Consolação, foi, dentre muitas coisas, um mestre na “arte” de tentar reunir razão e fé. Por meio de uma maiêutica socrática, em que a filosofia faz o “papel” de Diotima (aquela que conversa com Sócrates e lhe explica o que é o amor em O Banquete) e traz à luz o raciocínio lógico que deve nos levar a entender questões pungentes como a existência do mal e de D’us, a Fortuna em contradição com a Providência Divina, a verdadeira felicidade, a impunidade dos maus, o sofrimento dos bons etc. Podemos comparar seu descobrimento filosófico com a o Mito da Caverna de Platão. É por meio da conversa com a Filosofia que Boécio de desvencilha das noções superficiais que o homem tem sobre a felicidade, os verdadeiros bens, a Fortuna e Deus, e passa a compreender o que para ele é o verdadeiro saber, o conhecimento mais profundo da realidade deste mundo. Seguindo uma linha que a princípio parece até ter influências das escolas helênicas, a filosofia lhe explica que as verdadeiras felicidades não são os prazeres do corpo nem os bens materiais que ele possuía. Depois de perder tudo e estar na prisão à espera da morte, Boécio entende que não perdeu nada que tenha valor real.

 Boécio nos descreve sua conversa com a Filosofia de maneira clara, com argumentos encadeados didaticamente, usando os meios filosóficos para a transformação do olhar que temos sobre a vida. É como a iluminação da graça, mas com argumentos da filosofia.

Uma das questões principais para ele, e por motivos óbvios, é a da desgraça imerecida. E respondendo a essa questão, a Filosofia vai fazê-lo ver o que é aparência ilusória e o que é a realidade, a verdade de Deus. É uma questão latente e contemporânea, que faz a Consolação ser assustadoramente atual. Por que os bons sofrem tanto? Por que Deus deixa que pessoas más estraguem a vida dos bons? Como pode, se me permitem citar um exemplo que aconteceu semana passada, uma pessoa cruel e má em todos os sentidos dessas palavras, atirar e matar um pai e dois filhos que saíam da escola, porque estes eram judeus (aconteceu em Toulouse, na França)? A violência no mundo de hoje nos esmaga, e o sentimento de liberdade parece não existir mais; para onde quer que se vá, sempre há o mal que insiste em se manifestar. A resposta de Boécio está no verdadeiro estatuto ontológico de Deus e no livre-arbítrio dos homens. Deus, como o Bem supremo, é o Ser único. O mal, produto da escolha do homem, é a vida no não-Ser. Então, quem faz o mal tem seu castigo no próprio viver no não-Ser, privando-se da bondade de Deus. A impunidade seria um castigo, já que não deixa que os maus vejam a realidade verdadeira da bondade de Deus. A escolha do bem faz o homem poder participar da bondade Divina, ter acesso ao transcendente. Vivemos num mundo de aparências, e, para Boécio, os sentidos não podem nos fornecer a verdade, apenas um teatro de ilusões e paradoxos. O racional pode nos levar à verdade universal e transcendente de Deus, que pode dar um pouco de alento para a agonia de quem sofre “injustamente”.