A noção do mal inerente ao homem e de sua miséria como estatuto ontológico é um conceito teológico que pode ter implicações políticas. Uma sociedade que se vê como incapaz de se guiar pelo próprio esforço, já que não pode escolher o bem a não ser pela graça, pode acabar tendo um líder despótico que se diz agraciado/representante de Deus na Terra. A relação que Espinosa faz entre o teológico e o político é que esse pessimismo generalizado causado pelas doutrinas da época, o que geraria também uma falta de uso do pensamento racional, causaria na política a arbitrariedade e a superstição. São sintomas da desgraça que têm consequências na sociedade como um todo.
Além disso, essa concepção da graça como única forma de salvação se choca com o livre-arbítrio e a motivação para agir. A ideia que Espinosa defende, de que as pessoas devem ser julgadas por suas obras, também confere um caráter político à sua análise teológica. O agir do homem e como ele contribui para o mundo importa mais que a graça de quem é ou não escolhido.Ademais, Espinosa viu nas posições calvinistas de que a determinação da verdade é exclusiva do clero uma pretensão ao despotismo. Espinosa viveu numa época em que as leis religiosas eram extremamente influentes na sociedade
Essa ligação está no conceito das grandes religiões monoteístas do Deus pessoal, criador e que intervêm na vida dos homens, diferente da concepção imanentista da realidade da substância de Espinosa. A religião baseada na graça leva o homem à obediência (juntamente à noção do mal inerente, da culpa e da insuficiência humana), o que faz com que ele caia na mão de religiosos e governantes charlatães “em troca de meia dúzia de mentiras inaceitáveis a qualquer homem de boa fé”.
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