terça-feira, 6 de agosto de 2013

A origem e amplitude do mundo das formas em Platão e sua defesa do suprassensível



Sócrates, por meio de sua “filosofia negativa”, refutou as teses dos filósofos da natureza, mostrando que o mundo material não poderia servir como explicação para os princípios dos entes. Platão, por essa via, foi buscar “a verdadeira natureza das coisas” no transcendente, no que pode ser apreendido apenas pelo pensamento. O ser das coisas, portanto, é conferido pelas ideias, realidades supremas, universais, imutáveis e eternas. O mundo das formas abarca todos os seres dos quais os entes sensíveis do mundo material participam. A amplitude desse mundo é enorme, pois a realidade tal qual a conhecemos no mundo sensível seria uma cópia imperfeita do mundo das ideias.

-Anita-

O conceito de imortalidade da alma em Sócrates e seu legado para a metafísica



O conceito de alma para Sócrates tem influências do orfismo (que acreditava ser a alma um ente decaído no corpo) e do pitagorismo, mas é “aprofundado” pelo filósofo.  Sócrates define a alma como algo individualizado, como o próprio “eu” que “se serve do corpo”. Me parece que a alma em Sócrates é um tanto dual. Ela é transcendente e imortal, um ser inteligível que contempla o mundo das ideias antes de descer ao corpo, e, ao mesmo tempo, ela é aquilo que ordena as vontades ao corpo, aquilo que fez Sócrates decidir se render à pena de morte e tomar o veneno. Não sei se posso dizer isso, mas parece um ser transcendente (enquanto habita o mundo das formas) e imanente (enquanto exerce no corpo o papel do que chamamos hoje de mente).


Bom, voltando à pergunta sobre a imortalidade da alma e seu legado, esse conceito abre para a metafísica uma visada do transcendente, do suprassensível, já que a alma seria incorpórea, pensada como divina. É com a alma inteligível que Platão passa a pensar em outros seres além do físico, como a alma, que seriam os princípios e seres de todos os entes. Platão atribuiu às ideias o mesmo estatuto de realidade que Sócrates atribuiu à alma. Se a alma é imortal, ela deve habitar algum lugar antes de descer ao corpo. Deve existir, então, uma “outra realidade” de seres que compartilhem as características da alma.

-Anita-

A existência precede a essência



Trecho de "O existencialismo é um humanisno" - Jean Paul Sartre

“O homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais anda, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. O homem é, antes de mais nada, um projeto que se vive subjetivamente, em vez de ser um creme, qualquer coisa podre ou uma couve-flor; nada existe anteriormente a este projeto; nada há no céu inteligível, o homem será antes mais o que tiver projetado ser. Não o que ele quiser. Porque o que entendemos vulgarmente por querer é uma decisão consciente, e que, para a maior parte de nós, é posterior á aquilo que ele próprio se fez. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me; tudo isso não é mais do que a manifestação duma escolha mais original, mais espontânea do que o que se chama vontade. Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência.”

Alexander Supertramp, um mochileiro contra o mundo

Christopher McCandless, (Alexander Supertramp), (1968 - 1992), Mochileiro Americano
Apesar da ingenuidade de Christopher McCandless,  sua história é um profundo reflexo de nosso tempo. É a história de um jovem inteligente e sensível que, como quase todos os jovens de hoje, era impelido a buscar o sucesso financeiro, o prestígio e a aparência. O movimento contemporâneo de transformar nossos jovens em “produtos de sucesso” parece não medir consequências. Tudo é válido para que nos tornemos máquinas eficientes.
Christopher deu a todos o que eles queriam,  formou-se com louvor em prestigiada universidade americana. Depois disso, sem avisar a ninguém, desapareceu.  Saiu vagando pelas estradas dos EUA sobrevivendo de pequenos serviços, lendo livros e fazendo várias amizades graças a sua enorme simpatia. Seu desprezo pelo lógica do consumo excessivo era sua principal motivação, ele não queria fazer parte disso.
Dirigiu-se aos confins do Alasca onde, depois de vários meses vivendo em um ônibus abandonado, morreu de fome devido a erros de planejamento. Seu pensamento final estava escrito em um caderno, encontrado ao lado de seu corpo. “A felicidade só é real quando compartilhada”. No final das contas, era apenas isso que ele buscava: compartilhar sua alegria, sua juventude e seu vigor. A vida é um milagre grande demais para ser desperdiçado com aparências, futilidades e coisas sem sentido, assim pensava Christopher McCandless, que em suas viagens assumiu o codinome de mochileiro “Alexander Supertramp”.
O jornalista Jon Krakauer se interessou pela história de McCandless e resolveu investigar os lugares por onde ele passou, conhecendo as pessoas com quem ele conviveu, que lhe deram abrigo, serviços e principalmente amizade.  Desta pesquisa nasceu o livro Into The Wild, que se tornou umbestseller e estimulou um debate acalorado sobre a vida de McCandless. Enquanto uns concordam que ele era apenas um jovem ingênuo e irresponsável, outros alertam para o protesto que essa aventura representa.
O fim trágico dessa aventura é culpa de todos nós, que aceitamos imposições fúteis sem questioná-las e pressionamos nossos jovens a fazerem o mesmo. Sua  mensagem final é um aviso de alerta para uma sociedade adoecida pela superficialidade.
A aventura de Christopher McCandless inspirou o filme “Into The Wild”.

-Alfredo Carneiro-

Epicuro: A filosofia do prazer

Epicuro, filósofo grego, nietzsche, atenas, filosofia antiga, grécia.
Epicuro desenvolveu uma filosofia baseada no prazer, que é frequentemente confundida com uma busca de prazer desenfrado. A verdade era que sua filosofia pregava a sobriedade, a disciplina, a gentileza e a apreciação dos pequenos e belos momentos da vida.
Epicuro de Samos (341 – 270 a.C) desenvolveu uma belíssima filosofia do prazer. No entanto,  o prazer para Epicuro era o supremo bem a ser a cultivado com moderação e sabedoria, pois nem todo prazer é digno ser ser desejado, como aqueles que depois causam dor e sofrimento.  A privação e a disciplina são coisas valorizadas em sua filosofia, pois proporcionam o prazer de apreciar as coisas simples, belas e suaves da vida. Ele não estava preocupado com outro mundo senão este, e pretendia tornar esta vida possível de ser vivida através da criação de condições para a felicidade plena.  As boas lembranças, cultivadas com a gentileza,  a generosidade e contemplação são também prazeres que tornam a vida feliz.
Epicuro tinha uma ampla propriedade em Atenas, com um belo jardim, onde seus discípulos se reuniam para assistir suas aulas.  A fama deste filósofo, reconhecidamente gentil, generoso e afetuoso como todos que o procuravam, atraiu discípulos de todas as partes em busca de um remédio para os sofrimentos da vida. Na entrada da propriedade estava a seguinte inscrição “Hóspede, aqui serás feliz.”  A filosofia suave e tranquila de Epicuro atravessou os séculos e permanece viva e atual. Nietzsche, em uma de suas obras, o chamou de “esse Deus dos jardins”.

-Alfredo Carneiro-

Wittgenstein, o filósofo que matou a filosofia

200px Ludwig Wittgenstein 1910
Muitos consideram a genialidade de Wittgenstein comparada a de Einstein. Investigou os limites da linguagem e afirmou: "Se queres saber o significado de uma palavra, não procure no dicionário. Pergunte para quem a disse."
A vida do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein foi tão intensa quanto sua filosofia. Filho de Karl Wittgenstein, na época um dos industriais mais  poderosos da Europa, renegou sua herança milionária, pois tanto dinheiro poderia atrapalhar seus pensamentos.  Era exageradamente honesto, ingênuo, agressivo e apaixonado pela filosofia, tanto que qualquer um que não a valorizasse era solenemente desprezado como alguém de espírito inferior.
Alistou-se como oficial na primeira guerra mundial e participou de várias batalhas, ganhando várias condecorações por bravura.  Recusou o chamado de recuar e abandonar seus soldados e foi feito prisioneiro. Em sua mochila de soldado estava o rascunho de uma das mais importantes obras da filosofia analítica: o Tractatus Lógico Philosophicus. Sobreviveu à guerra e trabalhou com professor de escola primária,  jardineiro e mestre de obras, apesar de já ser reconhecido como um dos maiores filósofos do século XX. Sua irmã Margaret, com a intenção de dar um emprego ao seu “irmão maluco”,  e conhecendo suas assombrosas habilidades em lógica e matemática, o contratou para construir uma casa. Wittgenstein  se dedicou obsessivamente (como de costume) à construção e criou uma casa com estilo modernista anti decorativo que se tornou uma referência da arquitetura moderna.
Com a ajuda de seu mestre, Bertrand Russell, tornou-se professor em Cambridge e travou debates com Alan Turing, um dos maiores matemáticos do século XX e um dos pais da computação.  Durante a segunda guerra, se ofereceu para trabalhar como servente de hospital. Depois da guerra, se dedicou à conclusão do livro Investigações Filosóficas, que é também uma crítica ao seu primeiro livro, pois ninguém poderia superar Wittgenstein, a não ser ele mesmo.  Posteriormente abandonou a vida acadêmica, pois achava que aquela não era a vida de um verdadeiro filósofo.
Enquanto que no Tractatus Lógico Philosophicus ele busca a essência da linguagem,  no Investigações Filosóficas ele afirma que a linguagem varia de significado de acordo com os contextos, não possuindo essência mas apenas “jogos de linguagem”, o que tornaria impossível qualquer busca pela verdade. Ele conclui então que a filosofia não seria mais possível após essa descoberta.  Morreu de câncer aos 62 anos, seu último recado para seus amigos foi: “diga-lhes que tive uma vida feliz”.

-Alfredo Carneiro-