
"Chegamos ao terceiro princípio básico: após discutir
o livre-arbítrio e a vontade de sentido, o sentido em si é agora o problema.
Bem, nenhum logoterapeuta “prescreve” um sentido, mas pode muito bem
“descrevê-lo”. Quero dizer que pode fazê-lo de maneira puramente descritiva,
apenas descrevendo o modo como o homem realmente existe, ou de forma
fenomenológica, ampliando o campo visual do paciente com relação a sentidos e
valores, tornando-os aparentes, por assim dizer. No caminho de uma percepção
crescente, finalmente pode-se perceber que a vida não deixa de guardar e ter um
sentido até o último momento. Isto porque, como nos permite uma análise
fenomenológica, não apenas o homem encontra sentido em sua vida por meio de
suas ações, seus trabalhos e sua criatividade, como também por meio de suas experiências,
do encontro com o que é verdadeiro, bom e belo no mundo. E por último, mas não
menos importante, por meio de seu encontro com o Outro, um ser humano em sua singularidade.
Compreender outra pessoa em sua singularidade significa amá-la; mas mesmo em
uma situação na qual o homem não dispõe de criatividade e receptividade, ele
ainda assim pode cumprir um sentido em sua vida, pois justamente ao encarar tal
destino, quando confrontado com uma situação impossível – exatamente então lhe
é dada a oportunidade de realizar um sentido; não apenas isto, como também de
compreender o mais alto valor, até o mais profundo sentido do sofrimento. Não é
preciso dizer que o sofrimento só pode ser significativo se a situação for
imutável – caso contrário não estaríamos lidando com heroísmo, mas sim com
masoquismo."
-Trecho de um ensaio de Viktor Frankl traduzido por
mim
-Anita Morgensztern-