segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Notas sobre metafísica



Podemos tematizar como metafísica a filosofia que investiga os princípios e causas suprassensíveis (transcendentes, inteligíveis) da existência, como por exemplo a alma, as ideias platônicas (que são princípios transcendentes de determinação da matéria) e Deus (ou a ideia do Uno, do demiurgo...). Os primeiros filósofos, os pré-socráticos (ou mais apropriadamente os “filósofos da natureza”), começaram uma investigação cosmológica baseada em observações e análises racionais sobre a origem e a realidade do mundo. Sua importância, além desse primeiro passo da passagem do mito ao logos, consiste em algumas contribuições para a fundação dos escritos metafísicos por excelência de Platão (Parmênides - a realidade além da aparência, a impossibilidade do não-ser e do movimento. Heráclito – uno/logos/fogo, realidade como eterno devir, entre outros). Portanto, pode-se dizer que as primeiras contribuições surgiram com os filósofos da natureza, mas que essa disciplina como a definimos hoje foi iniciada no pensamento filosófico com os diálogos de Platão.

A metafísica se preocupa com tipos de entes que excedem o sensível porque se propõe a estudar o sentido da existência por meio de princípios que vão além da natureza, uma busca por entes eternos e imutáveis. Esse “tipo de ente” obviamente não pode ser encontrado no mundo sensível do devir. É tarefa da metafísica justificar racionalmente a existência de tais seres que fundamentariam a nossa realidade.


O desenvolvimento da metafísica foi gradual porque os chamados primeiros filósofos - aqueles que começaram a responder com argumentos racionais aos questionamentos sobre a origem do mundo, das coisas e sobre a composição da realidade -  ainda “ficaram na natureza”. A explicação para a composição da realidade estava na physis, sempre em algum elemento da natureza que eles pudessem justificar como sendo o fundamento de todas as coisas. A natureza era explicada por si mesma, como sendo causa e princípio de si mesma. E mesmo que alguns deles tenham buscado elementos não tão “palpáveis”, esses elementos não tinham a característica do suprassensível, aquilo que está além da física. O infinito de Anaximandro, por exemplo, apesar de parecer um ente metafísico, é uma explicação da natureza da matéria. No entanto, alguns desses filósofos contribuíram com problemas que foram retomados por Platão e Aristóteles, sendo redefinidos por eles com respostas fundamentadas em causas suprassensíveis. O problema da identidade na diversidade, por exemplo, foi analisado por Platão, que nos ofereceu o argumento de que há as ideias universais, e que os seres sensíveis e particulares participam dessas ideias, adquirindo assim suas características.


Apesar de o nome “metafísica” ter sido dado aos escritos de Aristóteles sobre sua “filosofia primeira” (e embora Aristóteles tenha sido um dos maiores filósofos da área), foi Platão mesmo que iniciou o tipo de pensamento característico do que hoje conhecemos como metafísica. Afinal, Platão fundamentou todo um sistema em uma realidade completamente inteligível e transcendente que seria “mais real”  que o mundo sensível, demonstrando racionalmente a existência de entes completamente abstratos (não sei se essa é uma boa palavra), as ideias universais, além de propor a existência do demiurgo (o questionamento sobre um ser suprassensível que tenha de alguma forma dado origem ao mundo material é uma das características da metafísica assumidas pela tradição filosófica). 
-Anita Morgensztern-

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