
Podemos tematizar como
metafísica a filosofia que investiga os princípios e causas suprassensíveis
(transcendentes, inteligíveis) da existência, como por exemplo a alma, as
ideias platônicas (que são princípios transcendentes de determinação da
matéria) e Deus (ou a ideia do Uno, do demiurgo...). Os primeiros filósofos, os
pré-socráticos (ou mais apropriadamente os “filósofos da natureza”), começaram uma
investigação cosmológica baseada em observações e análises racionais sobre a
origem e a realidade do mundo. Sua importância, além desse primeiro passo da
passagem do mito ao logos, consiste em algumas contribuições para a fundação
dos escritos metafísicos por excelência de Platão (Parmênides - a realidade
além da aparência, a impossibilidade do não-ser e do movimento. Heráclito – uno/logos/fogo,
realidade como eterno devir, entre outros). Portanto, pode-se dizer que as
primeiras contribuições surgiram com os filósofos da natureza, mas que essa
disciplina como a definimos hoje foi iniciada no pensamento filosófico com os
diálogos de Platão.
A metafísica se
preocupa com tipos de entes que excedem o sensível porque se propõe a estudar o
sentido da existência por meio de princípios que vão além da natureza, uma busca
por entes eternos e imutáveis. Esse “tipo de ente” obviamente não pode ser
encontrado no mundo sensível do devir. É tarefa da metafísica justificar
racionalmente a existência de tais seres que fundamentariam a nossa realidade.
O desenvolvimento da metafísica foi gradual porque
os chamados primeiros filósofos - aqueles que começaram a responder com
argumentos racionais aos questionamentos sobre a origem do mundo, das coisas e
sobre a composição da realidade - ainda
“ficaram na natureza”. A explicação para a composição da realidade estava na
physis, sempre em algum elemento da natureza que eles pudessem justificar como
sendo o fundamento de todas as coisas. A natureza era explicada por si mesma,
como sendo causa e princípio de si mesma. E mesmo que alguns deles tenham
buscado elementos não tão “palpáveis”, esses elementos não tinham a característica
do suprassensível, aquilo que está além da física. O infinito de Anaximandro,
por exemplo, apesar de parecer um ente metafísico, é uma explicação da natureza
da matéria. No entanto, alguns desses filósofos contribuíram com problemas que
foram retomados por Platão e Aristóteles, sendo redefinidos por eles com
respostas fundamentadas em causas suprassensíveis. O problema da identidade na diversidade,
por exemplo, foi analisado por Platão, que nos ofereceu o argumento de que há
as ideias universais, e que os seres sensíveis e particulares participam dessas
ideias, adquirindo assim suas características.
Apesar de o nome “metafísica” ter sido dado aos
escritos de Aristóteles sobre sua “filosofia primeira” (e embora Aristóteles
tenha sido um dos maiores filósofos da área), foi Platão mesmo que iniciou o
tipo de pensamento característico do que hoje conhecemos como metafísica.
Afinal, Platão fundamentou todo um sistema em uma realidade completamente
inteligível e transcendente que seria “mais real” que o mundo sensível, demonstrando
racionalmente a existência de entes completamente abstratos (não sei se essa é
uma boa palavra), as ideias universais, além de propor a existência do demiurgo
(o questionamento sobre um ser suprassensível que tenha de alguma forma dado
origem ao mundo material é uma das características da metafísica assumidas pela
tradição filosófica).
-Anita Morgensztern-
-Anita Morgensztern-
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