quarta-feira, 27 de novembro de 2013

À espera do futuro




O ser humano tem algumas inclinações naturais. Podemos falar de uma natureza humana? Não sabemos ao certo, é um problema que permeia o diálogo filosófico desde a era pré-socrática. Mas podemos, sim, dizer que experimentamos a vida como seres humanos, e que nós, em geral, temos algumas características que nos fazem humanos.

Kant afirmou que o homem tem uma inclinação natural à metafísica. Isso quer dizer que sempre buscamos algo a mais, uma explicação além do material, uma estrutura para entendermos a nós mesmos e ao mundo que nos cerca. Essa busca também pode ser interpretada como uma busca por um sentido, por um propósito. Por que trabalhamos? Por que fizemos as escolhas que fizemos? Por que existimos onde existimos? O ser humano é a única criatura capaz de questionar a própria existência e de não se sentir completo sem que haja um sentido para ela.

Segue-se dessas características que o homem está sempre querendo prever o que vai lhe acontecer. Não seria talvez por querer se sentir seguro, por ter medo do desconhecido? Penso que não é só isso. Querer saber do futuro faz parte da nossa característica humana de buscar um sentido para a vida em geral e para a nossa vida em particular. Quem está perdido, quem não encontrou seu caminho, quem vive uma decepção ou algum tipo de prisão, se consola e se conforta em tentar “solidificar” o futuro, querer estabelecer como serão os próximos anos. Já a reificação negativa, esperar que aconteça o pior e se conformar com isso de antemão, talvez seja uma defesa da pessoa que está cansada de sofrer, que não quer mais se decepcionar. Pensando assim, o que vier e for diferente do previsto é lucro.

O que seria, então, ideal sobre as nossas expectativas com relação ao futuro? Gosto do caminho da virtude de Aristóteles, o caminho do meio (ou o equilíbrio das filosofias chinesas).  Não é bom pensar demais e nem pensar de menos sobre o futuro. Não precisamos reificar de maneira positiva demais e nem de maneira negativa demais. Ou quiçá o melhor a fazer seja seguir o conselho de Nietzsche: “Aprecio a ignorância com relação ao futuro, não quero morrer de impaciência ou alegria antecipada à espera das coisas prometidas.”

-Anita Morgensztern


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