
Agostinho foi um filósofo preocupado em “resolver” questões existenciais e passou por várias etapas, que caracterizam muitas das buscas existenciais contemporâneas. Ou seja, ele estudou e aderiu a várias doutrinas filosóficas, encontrando em cada uma explicações para os seus questionamentos incessantes, mas se decepcionou quando não podia mais encontrar respostas. A sua conversão ao cristianismo não se deu apenas pela fé, mas pelo intenso estudo dos ensinamentos cristãos. Uma de suas características mais marcantes foi a tentativa de conciliar fé e razão. Agostinho precisava encontrar numa filosofia/ou religião a reflexão e as bases racionais que explicassem a realidade, o homem e o mundo.
Agostinho buscava saber no que consistia a felicidade, o que é o bem supremo. Ele primeiro aderiu ao maniqueísmo, em que o dualismo bem versus mal tenta explicar o problema do mal. Mas ao não conseguir respostas para os seus questionamentos, ele passa a explorar o ceticismo. Fazendo uma comparação com as nossas próprias buscas existenciais, acho que esse é um caminho que muitos de nós já tomamos - o questionamento sobre se podemos realmente conhecer a verdade ou se isso é algo inalcançável para o ser humano. Isso principalmente porque se trata de uma questão que envolve fé e a tentativa de conhecimento do transcendente. Assim, Agostinho, como muitos de nós, adotou a postura crítica de questionar os métodos de conhecimento do homem com relação ao divino.
Continuando seu “passeio” pela tradição filosófica, Agostinho passa para a metafísica neoplatônica, em que a realidade se constitui no Uno e tudo faz parte desse Uno, que é o bem supremo. Em suma, o filósofo passou pelo maniqueísmo, ceticismo e platonismo antes de finalmente chegar ao monoteísmo cristão. E todo esse seu caminho foi incorporado em seus escritos sobre a religião cristã, principalmente a concepção monista platônica de que tudo é o Uno, mas agora com a concepção do Lógos encarnado na figura de Cristo. Porém, as tentativas de Agostinho de conciliar razão e fé procuram argumentos dentro da própria religião cristã. É o salto de fé, o naase venishmá (fazemos e depois ouvimos, em hebraico), ou seja, primeiro há que se crer e, depois, tenta-se entender. E o filósofo compreende, assim como Platão, os limites do conhecimento por parte do homem. E é aqui que entra a graça divina, o conceito de que, apesar do esforço do homem ser necessário, ele não é suficiente para se chegar ao conhecimento do divino, que só seria possível por meio de revelação, da bondade de Deus. É também o reconhecimento de que a capacidade racional do homem não pode abarcar a natureza transcendente divina em sua completude. A ponte entre a sabedoria humana e a divina seria a bíblia e os ensinamentos de Cristo, o que outros pensadores antes de Agostinho já haviam considerado. Trata-se de uma investigação racional e metafísica que parte de princípios revelados por Deus, e não concluídos pela lógica do homem.
Na filosofia de Agostinho, metafísica e ética se fundem. Conhecer a Deus é conhecer o bem supremo, que representa a felicidade – a eterna busca do homem. O destaque para a ética, a virtude conquistada pelo agir humano, reflete também o “conhece a ti mesmo”, de Sócrates, mas com a ajuda da revelação divina. Tanto para Sócrates como para Agostinho, a verdade está dentro de cada um, mas para Agostinho ela nos é dada por Deus.
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